Historial

O edifício sede do Centro Social de Tolosa é uma antiga Escola Primária, tipo Adães Bermudes, hoje completamente reconstruída e restaurada, mantendo toda a bela traça original, um pouco difundida por todo o País, que marca os finais da Monarquia.

         Teria sido bem mais simples, mais funcional e muito mais económico demolir o edifício e criar um complexo social com uma arquitectura moderna e uniforme, fazer uma obra totalmente nova. Essa não foi a opção, e muito bem, porque ali está a história escolar dos primeiros três quartos do século XX, ali viveram, brincaram, fizeram as primeiras e mais duradoiras amizades, aprenderam a magia da leitura e da escrita os seus actuais inquilinos que, mesmo desmemoriados pelos anos, ainda recordam o local da sua carteira e dos muitos companheiros que já partiram. A demolição da Escola seria impossível, porque ela simboliza um marco da nossa História Local, ali estão as vivências que se interiorizam para a vida, estão as nossas memórias afectivas, impossíveis de esquecer, sob pena de nos desenraizarmos e perdermos a identidade.

       Após a primeira restauração do edifício, concretizada pela Câmara Municipal de Nisa, é inaugurado o Centro Social de Tolosa, em 28 de Dezembro de 1986, com 25 idosos em Centro de Dia. Numa sala funcionava a cozinha e o refeitório e, na outra em frente, com o mobiliário indispensável, conviviam os idosos ao longo do dia. Graças à boa qualidade dos serviços prestados, desde a alimentação aos cuidados de higiene e limpeza, depressa aumentou o número de utentes, concluindo-se, então, que era urgente criar a valência de Apoio Domiciliário, o que veio a verificar-se em Setembro de 1987. A Comissão Instaladora manteve-se em funções, durante doze anos, não obstante a obrigação estatutária de eleger os Corpos Sociais, no prazo de dois anos. É um longo período de estagnação nas áreas do investimento e do desenvolvimento, dada a impossibilidade legal de se candidatar a apoios financeiros e escriturar bens patrimoniais. Porém, o trabalho com os idosos sempre prosseguiu com reconhecida qualidade. Para além do Centro de Dia, o Apoio Domiciliário sempre funcionou sete dias por semana, os utentes mais dependentes eram assistidos e cuidados em casa, porque as funcionárias, a par da formação profissional na área da Geriatria, sempre foram de uma dedicação indescritível.

        Em Agosto de 1998, foram eleitos e empossados os Corpos Sociais. Havia um terreno, já comprado e pago pela Comissão Instaladora, na retaguarda do edifício escolar, com ligação ao Largo de São Pedro. Fez-se a escritura e o registo predial do lote de terreno e iniciaram-se os contactos para a ampliação do Complexo Social, quer junto do GAT de Portalegre para elaboração do projecto, quer na Segurança Social para a aprovação. Surge, igualmente, o problema da Escola Primária, onde o Município tinha feito obras de conservação e restauro, mas a posse continuava no Estado. A Autarquia procurou negociar com a Direcção-Geral do Património do Estado, mas o custo exigido era tão elevado, que a compra não se chegou a concretizar. A responsabilidade do negócio passou para a Direcção do Centro Social que, depois de alguns contactos, conseguiu efectuar a compra, por uma quantia simbólica, e passar definitivamente para a posse da Instituição, mediante a Portaria n.º 1182/98, do Senhor Secretário de Estado do Tesouro e das Finanças, publicada em Diário da República n.º 271, de 23 de Novembro.

      Sem quaisquer apoios financeiros da Administração Central, salvo uma verba de 30.000 contos para equipamento, entregue na semana da inauguração, a obra inicia-se em Setembro de 2000. Falharam todas as promessas da Administração Central, não era possível recorrer aos fundos comunitários, dado que o II QCA não previa financiamentos para estruturas da 3.ª Idade, em situação residencial. Valeu-nos o apoio da Câmara Municipal de Nisa com um subsídio de 80.000 contos, entregue no decurso de 2001, 65.000 contos de economias da Instituição, cerca de 15.000 contos de dádivas dos naturais e residentes em Tolosa… Mas tudo isto, embora significativo, era pouco para o investimento previsto. Depois de vários contactos para obter financiamentos, ficámos a saber que não existia qualquer linha de crédito bonificado para as IPSS. Foi a Caixa Geral de Depósitos, dirigida então por gente humanizada e solidária, que compreendeu e se disponibilizou para solucionar o nosso problema. Integrou o empréstimo no sector de apoios à Economia e, a partir de então, sentimos que o nosso sonho tinha valido a pena. A Obra foi inaugurada em 28 de Dezembro de 2001. Para além do Povo de Tolosa, que se associou em massa à Festa da Inauguração, contámos com a presença de muitos amigos e Entidades Oficiais, mas nenhum Membro do Governo, nem tão pouco o seu representante a nível distrital, quis estar presente, não obstante os convites oficiais e as muitas insistências telefónicas que fizemos até ao último dia. Todo o trabalho, toda a ansiedade, todos os pedidos insistentemente feitos, todas as humilhações sofridas, tudo isso valeu a pena. A Obra ergueu-se e está a funcionar plenamente. Hoje temos 10 utentes em Centro de Dia, 51 em Apoio Domiciliário, 59 em Lar, embora tenhamos apenas 38 em acordo com a Segurança Social, e 25 crianças em ATL.A sala que já recebeu os seus antepassados como alunos, que já os recebeu, igualmente, em convívio de Centro de Dia, voltou à sua função original, voltou a ouvir o riso e o tagarelar contagiante das crianças. O serviço social da Instituição alargou-se, igualmente, à Escola do 1.º Ciclo do Ensino Básico e ao Jardim de Infância, através do fornecimento das refeições às crianças, pondo em prática o desejável espírito de cooperação e interajuda com o Poder Local. Esta interligação funcional, iniciada em 1998, prolongou-se por mais de dez anos, com o agrado das crianças e a satisfação dos pais.

      Nestas instalações, comparáveis a qualquer hotel de qualidade, os quartos, com 36 m2, de duas camas, todos têm casa de banho privativa. Há amplas salas de convívio e actividades lúdicas, salão de cabeleireira, consultório médico e um amplo jardim envolvente. Porque a qualidade de vida dos idosos é a nossa principal prioridade, funcionamos como uma extensão do Centro de Saúde, com serviço clínico, assegurado por um médico e dois enfermeiros, que cuidam de todos os utentes, incluindo os de Apoio Domiciliário. Contamos igualmente com o trabalho dedicado e qualificado de uma técnica superior de animação educativa e sócio-cultural, que ajuda a que o Lar jamais se transforme num depósito de idosos.

        Nesta resenha histórica do Centro Social de Tolosa, seria muita ingratidão esquecer aqueles que se empenharam e colaboraram como membros da Primeira Direcção Eleita: Manuel Vences Cordeiro (Presidente), Francisco José Salgueiro (Vice-Presidente), Manuel Luís Mendes (Secretário), João Maria Feijão (Tesoureiro) e João Maria da Luz Bicho (Vogal). Foi uma época de muito nervosismo e determinação, onde é justo referir a pronta colaboração do Presidente da Assembleia, Francisco da Costa Cesário Vences.

       Entre tantos actos de vontade e determinação, vale a pena guardar para os vindoiros, como exemplo de união, a escritura do empréstimo de 80.000.000$00, celebrada na sede da Caixa Geral de Depósitos, em 2001. Depois de lido o documento, o Notário alertou os signatários por estarem a assumir uma responsabilidade pessoal, que punha os seus bens e as suas pensões em risco, em caso de incumprimento, pois a Instituição não tinha património para dar como garantia. Perante a insistência do Notário para os riscos que todos estavam a correr, responderam em uníssono: “Senhor Doutor, queremos assinar o empréstimo, porque é importante para Tolosa e temos absoluta confiança no Presidente”.     

        Por fim, gostaria de fazer uma referência muito especial a um Homem que dedicou os melhores anos da sua vida ao bem comum, com particular relevância na criação de melhores condições para os idosos deste Concelho. Estou a referir-me, como é evidente, ao Dr. José Manuel Basso, que sempre esteve ao lado dos humildes, dos que não têm voz, que já não podem, nem querem, reivindicar. Numa altura em que o Poder Local não se preocupava minimamente com infra-estruturas para os idosos, já a Câmara Municipal de Nisa recuperava escolas e outros edifícios públicos para apoio à 3.ª Idade, construía, com a mão-de-obra municipal, Lares em diversas localidades do concelho.

                                                                                       

Manuel Vences Cordeiro

 

 

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